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segunda-feira, 5 de maio de 2008

Nina Rodrigues Não Morreu!!!

Tenho que externar, não de imediato meu repúdio, mas, em certa medida, minha satisfação em ver as declarações do Sr. Antônio Natalino Dantas acerca do desempenho dos alunos de medicina da UFBA curso este, que era coordenador. Ele é o único racista sincero que existe naquela Universidade!!! Quem dera que todos os racistas fossem como ele: algumas dificuldades no enfrentamento do racismo institucional seriam amenizadas.
A Universidade Federal da Bahia, assim como maioria (senão todas) as nossas instituições, é racista. O que o EX(já que renunciou) Diretor da Faculdade de Medicina fez, é apenas reflexo do racismo da instituição, como um todo. A opinião dele, com certeza, acha repouso em tantos outros ouvidos e mentes (mas não em bocas), mas estas/es, diferentemente, não dão a cara a tapa. As declarações vieram em bom momento para cessar algumas vozes insistentes em dizer que nós, negras/os vemos racismo onde não tem e que a UFBA não é excludente, que dirá racista.
Mês passado, ocorreu lá nessa mesma instituição, o ENNUFBA - Encontro de Estudantes Negras e Negros na UFBA. A divulgação estava ocorrendo quando, na comunidade do Orkut da referida instituição, um tópico foi aberto, por um branco, se posicionando contra o encontro. Segundo ele, um evento desse tipo caracterizava-se como racismo às aversas e que nós, negras/os, estávamos discriminando e excluindo as/os brancas/os. Diante disso, uma discussão enorme deslanchou, rendendo mais de 1000 postagens. Enfim, o encontro ocorreu, foi um sucesso e, inclusive, essa "reação branca" à nossa articulação, repercutiu nas discussões feitas lá.
Diante do que foi dito pelo Sr. Ex Diretor da FAMED-UFBA Antônio Dantas Antes, agora eu quero ver quem ainda sustentará a posicionamento de que a instituição não é racista, nem excludente, apenas meritocrática. É certo que muitas/os tratarão esse fato como caso isolado e, mais que isso, como mera sandice de um louco, enquanto, na verdade, o cerne da questão está para além disso. Ele é reflexo de todo uma instituição, ele é aquilo que ele representa. Suas palavras não estão soltas ao vento, estão muito bem amarradas em toda a estrutura institucional-acadêmica.
Dizer que música percussiva (leia-se, música afro-baiana) não pode ser considerada música, é uma agressão a todas/as aqueles que sabem de sua origem lá da mãe África e da riqueza que essa musicalidade tem. Dizer isso significa dizer que aqueles que "vão atrás do ilê" e "avisam lá que se juntarão ao Olodum que é da alegria", são espécies de acéfalos ou imbecis que estão indo atrás de nada. Fazer uma declaração dessas significa que nós não podemos resgatar aquilo que nos foi arrancado (a identidade negra) por que nossos batuques não são música, nossa cultura é exótica, nossas religiões folclóricas.
Não podemos também nos furtar do comentário mais descaradamente racista que é se referir às cotas como porta de entrada da contaminação do curso. É bom que lembremos ao Sr. Dantas, que o curso de Medicina, mesmo com as cotas, continua sendo o curso mais elitista e branco da UFBA e que lá existem poucas/os negras/os. Aquele curso é quantitativa e essencialmente branco. Mas quando o chicote quer açoitar, só acha lombos pretos, mesmo quando se sabe que, se alguma coisa está errada na casa grande, as sinhás e sinhozinhos ocasionaram o desajuste. Nina Rodrigues, embaixo da terra que já consumiu sua carne, regozija-se sabendo que fez escola deixando discípulos persistentes que, como brasileiros(por opção), não desistem nunca. Nós, como brasileiras/os(no RG) da escravidão, da exploração e da marginalização, também não desistimos nem cansamos de retrucar a cada ofensa racista que os versos loucos, porém bem ritmados em sinfonias de Bach, Mozart e Beethoven, nos tomam como alvo.
Mas agora estamos tranqüilas/os, afinal, em sua renúncia, em grande ato de nobreza, o Doutor deixou bem enegrecido: assim como Ali Kamel, Aguinaldo Silva, Lya Luft, Gilberto Velho, Yvonne Maggie, Caetano Veloso e todos os demais que assinaram a carta dirigida ao STF pedindo a inconstitucionalidade das cotas(e tantos outros que não assinaram)...ELE TAMBÉM NÃO É RACISTA. Foi tudo impressão nossa, alguns mal-entendidos e ruídos de comunicação. Ou somos pretas/os burras/os demais e não entendemos o recado ou deve ser culpa da nossa mídia...aquela que está sempre do nosso lado!!!