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sábado, 4 de outubro de 2008

A estratégia é ser coerente!

Eu pensei em me manter distante de qualquer discussão nesse sentido, até por que estou meio afastada das atividades do movimento negro em decorrência de questões e ocupações pessoais que têm tomado quase todo o meu tempo e políticas que me induzem a tal afastamento. Todo caso, ainda que eu estivesse a pleno vapor, não faria campanha para fulano ou ciclano pois EU, GABRIELA RAMOS, não me imagino tão próxima de estruturas partidárias abraçando uma legenda que, com certeza, não me contemplaria. Mas agora, literalmente às vésperas do pleito, eu quero falar mesmo que ninguém queira ouvir!! hehehehehehhehe....
Eu confesso que passei todo esse tempo de campanha política entre dois candidatos: o petista e o "da esquerda de verdade". A verdade é que, desde que comecei a elucidar algumas coisas em minha cabeça acerca de questões raciais, eu cheguei à conclusão (para alguns, controversa) de que partido nenhum até então existente seria capaz de verticalizar a questão racial como é o desejo das/os negras/os que fazem essa discussão cotidianamente. Direita, Centro, Esquerda (de verdade ou de mentira), nenhum deles é em sua essência, PRETO/A. Mas, em contrapartida, não se pode esquecer que devemos ocupar todos os espaços e, como candidaturas independentes são proibidas pela Constituição Federal e pela legislação eleitoral, o que nos resta é fazer com os partidos o que a todo tempo eles têm feito conosco: usá-los.
Mas apesar disso parecer óbvio, eu fico me perguntando, o que têm feito as negras/os filiados a partidos?? O voto deve ou não ser racializado?? Certa feita, eu tive uma breve conversa com um preto filiado a um grande partido que sempre disse que pautava a questão racial dentro do partido e que nós tínhamos que ocupar todos os espaços. Então, perguntei a ele: Olívia Santana é pré-candidata, se ela disputar com um candidato branco do seu partido, vc votará em quem?? Ele nem pestanejou em responder que votaria no candidato do partido. E não bastando, prontamente disparou a tentar desconstruir a imagem da Mulher Preta como pretexto para não racializar o voto.
Isso aconteceu em novembro do ano passado. Hoje, quase um ano depois, menos de 24 horas antes das eleições a situação é a seguinte: - a candidata preta sofreu um golpe do partido que ele é filiado e que se acha o supra-sumo da esquerda. Olívia Santana, tendo sido chamada pra negociar uma vice-candidatura, no dia seguinte ficou sabendo pelo jornal que todas as coligações estavam fechadas e que ela, obviamente, não era a vice, nem tinha mais opção de coligação. A preta, agora é candidata a vereadora como tem sido a tantos anos. Nas propagandas políticas nenhum negro candidato a prefeitura (no máximo, vices) e candidata negra, então... - em contrapartida, nos comícios, carreatas e, sobretudo, segurando bandeiras e distribuindo santinhos tomando o sol escaldante de meio-dia na cabeça, lá estão, todas/os as/os pretas/os. - amanhã também certamente serão elas/es que correrão e receberão os cacetetes nas costas quando supreendidas/os (em alguns cantos da cidade) fazendo boca-de-urna pela promessa de uns 10 conto que na maioria das vezes, passada a eleição, ninguém verá a cara. É inevitável que eu me pergunte o que tem sido feito dos nossos quando entram nos partidos. Será que todos eles acreditam na que podem mudar, dessa forma, mantendo a lógica da submissão, da prisão a uma estrutura que não fornece nenhuma fiel sensação de pertencimento, que usa e marginalizada como todo o sistema macro(estatal). Sim, marginaliza!! Onde é mesmo que estão as pretas/os dos respectivos partidos senão nos diretório fazendo a base pra brancos subirem?? Sem nas beiradas, esperando alguma migalha. Nas marges, esperado as rebarbas de apoio pra serem candidatos a vereadores e inchar o partido para, em última instância, terem mais tempo de programa eleitoral a TV e dar visibilidade à foto e ao número do candidato branco a prefeito. Ou será que estão esperando pelo seu quinhão, visando qualquer outra coisa que não a ascensão do nosso povo?? Todo caso, qualquer uma dessas hipóteses e qualquer outra, são frustrantes. Eu realmente cogitei a possibilidade de votar no candidato petista, mesmo tendo todas as minhas restrições à sua face cínica, ao seu partido no momento precisa pongar na imagem de um único homem pra estimular qualquer pinguinho de credibilidade pois não se sustenta em si mesma (Lula é Lula, PT já foi o PT... incrivelmente, um partido inteiro, precisa de um único homem pra não se perder. rsrsrs...) Enfim...com todas as restrições, pensei em ter um voto estratégico desacreditando que Hilton pudesse chegar ao segundo turno e temendo descentralizar os votos e contribir para uma "tragédia eleitoreira" que seria optar entre ACM, O Neto, Imbassahy ou João Henrique. Também confesso que ponderei bastante quando lembrei das bases dos partidos coligados Hilton (nem vou tecer comentários pq algumas pessoas dessa lista têm conhecimento e vivência suficiente pra entender o que estou falando). Mas, convenhamos, tragédia eleitoral (pra não dizer eleitoreira mesmo) nós já estamos vivendo. Em 30 anos de movimento negro, ainda não há uma representatividade consolidada que fale por nós e tenha angariado apoio e força suficiente pra enfrentar uma eleição municipal. Pode parecer que a culpa é do movimento negro, dos seus desleixos, suas disputas internas, etc. Mas eu não consigo acreditar que seja só isso. Estamos aprisonados nesse sistema. E, apesar deparecer piegas, a opressão se faz sempre forte e operante. Isso por que, citando novamente Olívia Santana, ela tomou uma rasteira. E por mais que alguns digam que a questão não é só essa, que por trás tenha a complexidade das relação intra e extra partidária. Mas vamos focar no que nos interessa: uma mulher preta podia estar nos representando e não está. O partido a que ela pertence, pouco importa. Afinal de contas, partido por partido, (EM MINHA OPINIÃO) nenhum deles nos representa, nenhum deles verticaliza as nossas demandas, nenhum deles tÊm uma legenda preta, em nenhum dos seus estatutos consta que é um partido de preta/o para preta/o. Por isso mesmo, independentemente do que digam, voto por voto, dou a QUASE todos os partidos, excetos os cristãos e o da linhagem Carlista por serem o supra-sumo da opressão branca. Hilton, tem sido o que todos nós somos desde sempre, persistentes e sobrevivendo da nossa ousadia. Afinal, quem acha pouca ousadia querer iniciar o carreira em cargos eletivos pelo Poder Executivo Estadual e depois no Municipal?? Lembrando Roque, personagem de Lázaro Ramos em Ó Paí Ó, "a lei da minha raça é resistir!!!" EU QUERO HILTON 50, NA CAPITAL DA RESISTÊNCIA!!!