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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Ora, yê!

Oxum
Dona do meu ventre e de todo ventre fértil
Traga amor ao coração do débil, deficiente de emoção, tesão e paixão

Deusa Dourada
Coloque em suas águas de doçura plena e corrente serena
As almas que, de vis, se fizeram pequenas
Banha, Senhora Reluzente, esses Orís doentes e Ocans dormentes da torpeza do desamor
Não há dissabor que amargue de todo a alma e a carne dos peitos abertos em flor
Só não esqueça do meu pedaço na barra sua da saia
Do meu cantinho em suas águas
E do meu muito do seu amor
Dê a mim e a cada um dos meus um Axé e muitos Ijexás
Yabá Yê Yê, Yá Mi Awô!!!

sábado, 22 de outubro de 2011

Já que Narciso acha feio o que não é espelho...*

Toda vez que olhamos o outro e não nos vemos, a humanidade dá mais um de seus últimos suspiros. É assim com o racismo, a homofobia e o sexismo. Talvez estejam falidos os discursos igualitários quando se tem a renovação da equidade para sustentar tão reinventadas falas.
Se ver no outro não é procurar imagem e semelhança físicas, psiquícas ou ideológicas e sim enxergar em cada contorno humano o sopro da vida. Se não quer se ver nesse espelho tolido de pedacinhos de você, não tire pedacinhos alheios: eles não te pertecem, nem se encaixarão em nenhuma parte sua. Olhando para aquele reflexo, cada um tem que enxergar a individualidade que a coletividade não só é obrigada a respeitar, como deve preservar como num instinto de sobrevivência. 
Se eu olho pra você e te vejo machucado, alguma coisa de errada há comigo que te machuquei ou não evitei cada um dos machucados.
"Eu sou você, mesmo que você me negue"**, mesmo que você não enxergue. Cada cego disparo um tiro para a própria cabeça! É tudo espelho, mas há vários Narcisos, olhe em cada um deles e veja você!

*Adaptado da música Sampa - Caetano Veloso
**Música Alegria da Cidade - Lazzo Matumbi

Contida

Contive os gestos
as risadas
as palavras

tudo restrito
nada de mim

Estou sempre pra fora
mesmo quando tanto adentro

Se tudo aflora
A cor,
o clamor
os detrimentos

Eu jogo fora
Voa
dá volta
recicla no vento

Se estar dentro é fora,
Em verso
Ou prosa
Me exponho a Tempo

domingo, 5 de junho de 2011


Irmandade do chão, da mão e do ejé.
Ancestralidade africana é descobrir em cada irmão de santo o irmão de sangue que deixou no além-mar ou no negreiro atravessador do Atlântico.

IKÚ

Não sei lidar contigo, se morro eu a cada outro que morre e leva um pedaço de mim e da vida que há de renascer, mas naquele momento, inevitavelmente, morreu.
Não sei o que dizer se também nunca soube o que queria ouvir quando era eu quem precisava do consolo de um outro por causa de um terceiro levado de mim, da vida que é minha, mas morreu com ele.
Não sei como me portar se não sei como se porta quem está ali do lado quando no outro morre eu, que não vi, não lembro, não atentei ou não em importei com qualquer outro que não fosse o eu que parti.
Abraço? Beijo? Choro? Calo? 
Ah, não me dê trabalho, não me saia ainda mais caro que o preço carnal que lhe pago passando cheque em branco em dor. 

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Meu Lugar - Arlindo Cruz

Arlindo Cruz - Samba da melhor qualidade!!

Laguidibá - Alcione e Martinália

Composição : (Magnu Sousá / Maurílio de Oliveira / Nei Lopes)
 
Quem não é de Obalibô (Yô Yô)
Não usa laguidibá (Yá Yá)
Tira o colar do pescoço, seu moço
Que é pra não se machucar
Laguidibá não é simples ornamento
É colar de fundamento
Você tem que respeitar
Então seu moço
Sai desse angu de caroço
Tira o colar do pescoço
Pra papai não se zangar
Laguidibá adereço muito certo
É coisa de santo velho do antigo Daomé
Quem é de gege, pega esse colar e beije
Quem não é que se rasteje, se quiser ficar de pé

domingo, 15 de maio de 2011

Abian, Yawô e Yá

 

O início, o meio e a continuação, posto que o Axé, nunca acaba, se renova, se refaz, com ejó ou lorogum, não de desfaz!
Nasce, cria, cresce, axexê, sucessão, posse, engravida, pari, nesce, cria, cresce, filha, mãe e sempre filha.
O Candomblé é isso e não só isso. Portanto é melhor que saibamos desde sempre: ninguém entra pra sair, nem deixa de entrar pra não sair. Sendo religião de escolhidos, a cada um é dado o peso e as responsabilidades que suporta, o caminho e o benefícios que merece, o amor e o desamor que apetece. 
Chão, apoti, cadeira. Cada um a seu tempo, cada tempo com sua espera, cada espera com a delícia, não de viver, mas de SER cada fase. Senão, melhor levantar, tirar o ojá, calçar os sapatos, andar de salto e ser o que convém e não o que lhe veio.

PS:. Dedicado à minha Yá, tão linda como não podia deixar de ser uma senhora de Oxum mas que tem o brilho de uma criança nos olhos e a mesma alegria de um encantado erê; à Dofonitinha de Oxum, a minha mais velha, mais velha, pela paciência
(por que por mais que digam o contrário, ela tem até paciência em demasia), pelos aprendizados, pela criação e tudo mais; a Ojifurê, meu irmão de Obaaaaaaluaê por ter se tornado um grande amigo; aos meus demais mais velhos em especial Ominindé, Gutonan e Ominirô; aos meus mais novos, todos abiãs, já que sou a caçula, em especial Rodrigo de Logun Edé e Olga de Oba.

Com amor,
Torunjinlê!

Reflexão sarcástica: uma visão de reverso!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Passei no Pelourinho hoje, depois de meses, e fiquei estarrecida.O que é aquela degradação do nosso patrimônio humano.? Pensei ter vivido um pesadelo, chamei por Ogum a cada segundo, mas não pra me proteger e sim pra olhar por aquelas pessoas. 
Tudo começou com minha subida de Elevador Lacerda. Assim que entrei, veio um homem, com duas bolinhas de pó branco nas mãos, visivelmente fora de si, falando que tava de boa, que tinha conseguido um saldo bom das carteiras que tinha acabado de furtar. Ao ser perguntado por um moralista de plantão se ele não tinha vergonha de dizer aquilo, foi rápido e caceteiro: Eu não, sou "aviciado" mesmo. Vou fazer o que? Esperar que o bagulho venha na minha mão?? Tenho que fazer o corre, parceiro.
Ai lá vou eu pro ponto da Baixa de Sapateiro, quando estou lá esperando o bendito Bom Juá, uma mulher passa correndo e gritando descontrolada e incontrolável... os ambulantes do local dão risada, fazem chacota, já a conhecem, sabem que ela "deu um pau na maldita" (como mesmo disse um deles) e ficou assim... é sempre assim.. e é sempre assim também a naturalidade com a qual ele e muitos outros veêm a cena que me deixou com o coração deprimido.
Não é novidade que o Centro Histórico de Salvador passa por maus bocados, abandonado e orfão de políticas públicas de habitação, saúde, educação, segurança (por que aumentar policiamento, pra mim, não é política pública, é guerra), cultural..., etc. Mas a coisa está ficando degradante demais. Casarões recuperados, pintados bonitinhos para aparecer bem no Cartão Postal, mas com o maior patrimônio absolutamente renegado, negligenciado: as pessoas. O Crack está acabando com muitas delas e isso é questão de saúde pública e não de segurança. Os tambores do Olodum não estão mais abafando o som desse sofrimento. Subir a escadaria do carmo, não faz a cidade, onde todo mundo é de Oxum, ter seu brilho. As terças-feiras não parecem mais tão abençoadas... Estou triste!
Não podemos esquecer: nossos patrimônio degradado, é negro. Mata a bala, mata o crack, mata a fome, mata o desemprego. Tudo nos mata. Repito: estou triste!  
Desculpem-me, mas isso é um desabafo!  

sábado, 2 de abril de 2011

Nunca tão inteira, nunca tão mulher.



Eu nunca engravidei, mas tem persistido em minha cabeça o pensamento de como deve ser estar grávida. O mais esquisito é ter a sensação que esse pensamento é uma lembrança, como se eu já tivesse passado por essa experiência e agora estivesse resgatando esse momento. É uma  coisa boa, linda, leve. Só dói quando me dou conta que não é real.

Até agora nem entendi esse sentimento maternal tomando conta de mim. E não adianta especular por que não há possibilidade de gravidez. 
Só resta a agradecer por ter sido presenteada com a condição mágica de ser instrumento da fertilidade, do amor no ventre, do poder de parir gente, do ser mulher.

Ora yê yê, Oxum.
Minha mãe, minha benção, meu colo, minha referência.
Minha reverência a ela que ama e guerreia com as cores da riqueza, o reflexo do feitiço e as águas do amor.

E nessa de sentir, agora eu sou só isso, que não é só. 
Sou inteira, sou mulher.

terça-feira, 8 de março de 2011

Saudoso-te!

Saudade de você que nem está longe
Mas podia estar mais perto
Não!
Dentro
De você
Aconchegada, quente e viva

Mas morri ai
E aqui, só bate você
Por hora sem saber
E sempre sem querer
Pois ainda sabendo
Sabe não poder querer
Assim como só sabe essas rimas pobres
Verbo a verbo
Uma violência fonética
De pieguice certa

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Inobjeto animado

Carne-osso
perna-bunda
cabelo-cérebro
lábios-língua
Aperta o peito - leite
O ventre - vida e não-vida
Aperta a bunda
gemido
coração desavisado
tudo funciona
todos os botões ligados
Você, do alto de sua macheza
Grito
dedo em riste
palavra espada
não se espante se o objeto falar
e o inanimado andar
não recomendo usar, nem abusar.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Tá bom, Elisa. Eu paro!

Isso mesmo, me rendo e deixo de falar mal dela, coitada. Infeliz dela, a pobre da Rotina, tão mal tratada, sem ter culpa de nada, afinal, não pediu pra nascer e de repente todo mundo quer matá-la.
Comprei o livro pensando nos tantos poemas seus que já li acreditando que o livro de uma peça unido com poemas poderia ser ainda mais gostoso. 
Não me enganei!!!
Eu detesto livros de auto-ajuda, mas confesso que esse é uma ajuda, mas não é auto, é uma ajuda da Lucinda pra gente entender que a rotina é nosso filme e, se somos nós quem a escrevemos, dirigimos e atuamos, ela só será ruim se assim façamos com que seja. O protagonismo de nossas vidas, é, obviamente, nosso, portanto, ser aquela mocinha água com açúcar é Onus também nosso. São tantos detalhes pra arrumar, tantos personagens para amar, tanta gente pra dirigir, tantos coadjuvantes em cenas principais, tantos figurantes com falas, caras, bocas e corações.
Só te recrimino por uma coisa, Elisa: muitas vezes fui pega em flagrante rindo, no ônibus, na rua, em casa, em qualquer lugar que estivesse lendo. Impossível segurar aquele desenho lindo do riso em nossos lábios ao ler algumas passagens. do livro. Me deliciei, deliciei minha vida, meus olhos, meu dia-a-dia.
Minha rotina, aquela pobre coitada, sempre xingada (quem diria?!), está FINA!! Se encheu de detalhes da vida alheia, da vida do outro que a gente não presta atenção por que ignora... o outro, e consequentemente a vida.
Como é que pode, Lucinda me ensinar a importância de ser "inxirida" desde que tomar parte da vida do outro seja tomar parte da vida e não uma mera observação e intromissão mesquinha de julgamento e censura.
A leitura é uma delícia. Linguagem dinâmica, tudo muito rápido e caceteiro, direto ao ponto, sem delongas. É como conversar com uma amiga numa mesa de bar, entre uma cerveja e outra, aquela olhada ao redor, um comentário sobre alguém que passou ou que deveria ter passado. Aquele babado que aconteceu durante a semana e só deu pra contar no happy hour¹ de sexta.
Por tanto, Elisa, SÓ DE SACANAGEM, eu te admiro cada dia mais. Te recomendo, e rasgo seda, só de sacanagem e pra não sair da rotina.


¹Infeliz é o criador desse termo. A felicidade dele tem hora marcada. 

sábado, 15 de janeiro de 2011

Liberdade

O quarto aprisiona
Sufoca

Um grito que vem na garganta
Volta

Poucos suspiros

A vontade é de deitar na rua
Nua

Os raios da lua como cobertor

O edredom não cobre
Enforca


Até embala o sono
Mas dissipa sonhos
Grandes e flúidos
Desconfortáveis ao pouco pano

Aguardem!
Virão os cantos da liberdade
Nem que seja, aqui, subindo o Curuzú

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Transa

Ah, essa vontade de ficar nua
e essa vontade de ser sua

Devaneios de corpos negros
transando negras idéias

Pretos pensamentos
não se enxerga o fundo,
nem o raso
Só o que se ventila ao acaso

Mentalidades escuras,
jamais turvas
sempre lúcidas,
pontuais
mestras
Ah, se minha cabeça transasse com a sua
Não seríamos corpos e sim lindos versos de betume
A revolução malê com nossas assinaturas