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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Passei no Pelourinho hoje, depois de meses, e fiquei estarrecida.O que é aquela degradação do nosso patrimônio humano.? Pensei ter vivido um pesadelo, chamei por Ogum a cada segundo, mas não pra me proteger e sim pra olhar por aquelas pessoas. 
Tudo começou com minha subida de Elevador Lacerda. Assim que entrei, veio um homem, com duas bolinhas de pó branco nas mãos, visivelmente fora de si, falando que tava de boa, que tinha conseguido um saldo bom das carteiras que tinha acabado de furtar. Ao ser perguntado por um moralista de plantão se ele não tinha vergonha de dizer aquilo, foi rápido e caceteiro: Eu não, sou "aviciado" mesmo. Vou fazer o que? Esperar que o bagulho venha na minha mão?? Tenho que fazer o corre, parceiro.
Ai lá vou eu pro ponto da Baixa de Sapateiro, quando estou lá esperando o bendito Bom Juá, uma mulher passa correndo e gritando descontrolada e incontrolável... os ambulantes do local dão risada, fazem chacota, já a conhecem, sabem que ela "deu um pau na maldita" (como mesmo disse um deles) e ficou assim... é sempre assim.. e é sempre assim também a naturalidade com a qual ele e muitos outros veêm a cena que me deixou com o coração deprimido.
Não é novidade que o Centro Histórico de Salvador passa por maus bocados, abandonado e orfão de políticas públicas de habitação, saúde, educação, segurança (por que aumentar policiamento, pra mim, não é política pública, é guerra), cultural..., etc. Mas a coisa está ficando degradante demais. Casarões recuperados, pintados bonitinhos para aparecer bem no Cartão Postal, mas com o maior patrimônio absolutamente renegado, negligenciado: as pessoas. O Crack está acabando com muitas delas e isso é questão de saúde pública e não de segurança. Os tambores do Olodum não estão mais abafando o som desse sofrimento. Subir a escadaria do carmo, não faz a cidade, onde todo mundo é de Oxum, ter seu brilho. As terças-feiras não parecem mais tão abençoadas... Estou triste!
Não podemos esquecer: nossos patrimônio degradado, é negro. Mata a bala, mata o crack, mata a fome, mata o desemprego. Tudo nos mata. Repito: estou triste!  
Desculpem-me, mas isso é um desabafo!  

sábado, 2 de abril de 2011

Nunca tão inteira, nunca tão mulher.



Eu nunca engravidei, mas tem persistido em minha cabeça o pensamento de como deve ser estar grávida. O mais esquisito é ter a sensação que esse pensamento é uma lembrança, como se eu já tivesse passado por essa experiência e agora estivesse resgatando esse momento. É uma  coisa boa, linda, leve. Só dói quando me dou conta que não é real.

Até agora nem entendi esse sentimento maternal tomando conta de mim. E não adianta especular por que não há possibilidade de gravidez. 
Só resta a agradecer por ter sido presenteada com a condição mágica de ser instrumento da fertilidade, do amor no ventre, do poder de parir gente, do ser mulher.

Ora yê yê, Oxum.
Minha mãe, minha benção, meu colo, minha referência.
Minha reverência a ela que ama e guerreia com as cores da riqueza, o reflexo do feitiço e as águas do amor.

E nessa de sentir, agora eu sou só isso, que não é só. 
Sou inteira, sou mulher.