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domingo, 29 de abril de 2012

VENCEMOS!!! Negras/os, Democracia e Poder Judiciário.

Vencemos nós, negras/os, pelo anos que o Movimento Negro persistiu em falar de políticas afirmativas, nos outros demais anos que conseguiu fazer com que fossem implementadas.
Vencemos enquanto pertencentes a um Estado Democrático de Direito à medida que esse Estado, de fato, nos seja democrático e nos conceda, igualitariamente, o direito ao acesso ao ensino superior.
Talvez hoje, 26 de abril de 2012, a previsão dos Maias se perfaça: talvez o mundo acabe. O Mundo de cada Ali Kamel, Ivone Maggie, Demétrio Magnoli e Demóstene Torres  que existe Brasil afora. O mundo de cada um dos brancos que persistem na teorização de uma democracia racial eugênica, deturpada e que violenta a cada um dos negros nesse país.
Ainda virão diversas batalhas no nosso cotidiano e no próprio Judiciário, mas hoje, a vitória não foi pequena. Hoje, o Supremo Tribunal Federal levou a Constituição a cabo como nunca antes foi levada para a promoção dos Direitos Sociais para as/os negras/os brasileiras/os.
Estamos diante de um marco histórico para o Judiciário, uma unanimidade decisória que desafia as teorias universalistas que acobertam as disparidades que o racismo proporciona.
Eu estou feliz, radiante, emocionada. Queria escrever qualquer coisa mais concreta, mas acho que esse momento é de comemoração. Desde 2010 espero o julgamento dessa ADPF. Depois que assistir à audiência pública convocada pelo Relator da Ação, acreditei que a possibilidade da improcedência era bastante grande, sobretudo ao ver como os defensores do fim das cotas se utilizavam de argumentos tão pouco consistentes. Mas, embora estivesse esperando e confiante na improcedência, jamais imaginei que os Ministros da Suprema Corte fossem tão longe na fundamentação de seus votos. Sim, digo que foram longe por que, dentre os 11, apenas 1 é negro e somente dele se esperava uma exposição mais aprofundada, considerando que ele era o único a entender, quase que espiritualmente (pensando em ancestralidade), o que significa, realmente, a implementação das políticas afirmativas para as/os negras/os no ensino superior. Só ele, dentre os 11, sabe quantos leões brancos teve que matar para hoje estar ocupando aquela cadeira e quantos dos seus amigos, vizinhos e parente negros jamais chegaram à porta de uma Universidade, quiçá, aos altos cargos/postos desse país.
Estou, mais que feliz, vaidosa. Vaidosa por que verei agora, ao meu lado, na Academia, meus espelhos, me verei, sem a insegurança jurídica DEMoníaca ter como desconstruir o que fora construído por mãos negras mais de 20 anos.
O Estado brasileiro reconheceu hoje, que o racismo não é fato isolado e sim, que é estrutural. O país amadureceu hoje. Não houve PAC que fizesse esse país crescer como cresceu hoje, em dignidade, justiça e cidadania. Portanto, VENCEMOS, Negras/os, Democracia e Poder Judiciário.