Vencemos nós, negras/os, pelo anos que o Movimento Negro
persistiu em falar de políticas afirmativas, nos outros demais anos que
conseguiu fazer com que fossem implementadas.
Vencemos
enquanto pertencentes a um Estado Democrático de Direito à medida que
esse Estado, de fato, nos seja democrático e nos conceda,
igualitariamente, o direito ao acesso ao ensino superior.
Talvez
hoje, 26 de abril de 2012, a previsão dos Maias se perfaça: talvez o
mundo acabe. O Mundo de cada Ali Kamel, Ivone Maggie, Demétrio Magnoli e
Demóstene Torres que existe Brasil afora. O
mundo de cada um dos brancos que persistem na teorização de uma
democracia racial eugênica, deturpada e que violenta a cada um dos
negros nesse país.
Ainda virão diversas
batalhas no nosso cotidiano e no próprio Judiciário, mas hoje, a
vitória não foi pequena. Hoje, o Supremo Tribunal Federal levou a
Constituição a cabo como nunca antes foi levada para a promoção dos
Direitos Sociais para as/os negras/os brasileiras/os.
Estamos
diante de um marco histórico para o Judiciário, uma unanimidade
decisória que desafia as teorias universalistas que acobertam as
disparidades que o racismo proporciona.
Eu
estou feliz, radiante, emocionada. Queria escrever qualquer coisa mais
concreta, mas acho que esse momento é de comemoração. Desde 2010 espero o
julgamento dessa ADPF. Depois que assistir à audiência pública
convocada pelo Relator da Ação, acreditei que a possibilidade da
improcedência era bastante grande, sobretudo ao ver como os defensores
do fim das cotas se utilizavam de argumentos tão pouco consistentes.
Mas, embora estivesse esperando e confiante na improcedência, jamais
imaginei que os Ministros da Suprema Corte fossem tão longe na
fundamentação de seus votos. Sim, digo que foram longe por que, dentre
os 11, apenas 1 é negro e somente dele se esperava uma exposição mais
aprofundada, considerando que ele era o único a entender, quase que
espiritualmente (pensando em ancestralidade), o que significa,
realmente, a implementação das políticas afirmativas para as/os
negras/os no ensino superior. Só ele, dentre os 11, sabe quantos leões
brancos teve que matar para hoje estar ocupando aquela cadeira e quantos
dos seus amigos, vizinhos e parente negros jamais chegaram à porta de
uma Universidade, quiçá, aos altos cargos/postos desse país.
Estou,
mais que feliz, vaidosa. Vaidosa por que verei agora, ao meu lado, na
Academia, meus espelhos, me verei, sem a insegurança jurídica DEMoníaca
ter como desconstruir o que fora construído por mãos negras mais de 20
anos.
O Estado brasileiro reconheceu
hoje, que o racismo não é fato isolado e sim, que é estrutural. O país
amadureceu hoje. Não houve PAC que fizesse esse país crescer como
cresceu hoje, em dignidade, justiça e cidadania. Portanto, VENCEMOS,
Negras/os, Democracia e Poder Judiciário.