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domingo, 11 de abril de 2010

A COR DO AMOR

E o amor tem cor??? A prioristicamente, qualquer um responderia que não. Mas eu digo que sim! E digo que sim repassando mentalmente as discussões que ocorreram recentemente em uma lista virtual sobre as relações interraciais. 
O que faz um homem ou uma mulher pensarem no seu par ideal para manter uma relação? Todos aqueles adjetivos clichês aparecem: bonito, inteligente, educado, esforçado, trabalhador, militante, amoroso, elegante, etc. E optar por se relacionar com o outro nada mais é do que dizer que aquela determinada pessoa tem as características que você quer na medida em que você precisa, mesmo que depois de iniciada a relação você perceba que caiu em uma furada e a embalagem trazia um produto insoso ou mesmo amargo.
De toda sorte, por que homens negros, sobretudo os em melhores condições financeiras e sociais, optam raramente por se relacionarem com mulheres também negras? Talvez por que esses ideiais de beleza, inteligência, elegânciae até do amor mais romântico estejam desenhados em esculturas de cores claros, traços finos e cabelos lisamente sedosos. 
E com certeza, não irá faltar quem pergunte: e o amor? O amor não conta? Mas e eu respondo com umas outras perguntas: e o que é o amor? O que faz alguém se apaixonar por outrem se não a adimiração e idealização do que lhe é aprazível no outro, o conforto pessoal e emocional que aquela pessoa lhe proporciona e todas as outras flores dessa primavera sentimental?

Dizer que o amor tem cor não significa dizer que negras/os só devam se relacionar com negros/as e brancas/os só devam se relacionar com brancos/os por que a ninguém é dado o direito de simplesmente mirar o seu ofá de cupido apenas para os corações de mesma raça numa tentativa desesperada de evitar as relações interraciais. Mas se Kabunguele Munanga tanto nos trouxe acerca da descolonização do conhecimento, não podemos nos furtar dessas descolonização, inclusive, nas nossa relações. Por que eu, enquanto candomblecista e ex-cética não acredito em coincidências e certamente isso não é privilégio só meu.
O que não dá é pra criticarmos Ronaldo, Robinho e outros jogadores de futebol e pagodeiros por que eles saem da favela pra ser riqueza e fama e ao lado de casa um deles posam mulheres brancas enquanto quem está aqui embaixo discutindo exatamente esses padrões escolhidos por eles para carregar como mais um troféu, quando se está fazendo a mesma opção, ainda que não para ter um troféu, mas para ficar confortável no transitar desse ou daquele determinado espaço... ou mesmo por que se quer viver um romance e nossa literatura ainda anda pobre de princesas negras.

Podemos viver o amor que quisermos, desde que sem esquecer ou negligenciar os refenciais que cansamos de publicar em textos, músicas, poemas, discussoes virtuais e tudo o mais que cansamos de gastar em escrita e voz. Além de todos os nosso algozes históricos, temos nossos espelhos e nossos ecos.

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