Como
africana em Diáspora, tanto quanto os afro-haitianos, cada cara de dor
estampada nos tablóides me causa um incômodo desconsertante como quem
acaba de ver um parente passando fome e está sentado à mesa posta e
farta.
Mas não é a dor de ver o sofrimento e
desespero deles, é o desconforto de quem não está fazendo nada diante
daqueles açoites que marcam a carne ainda hoje.
O que aconteceu no Haiti pode ter sido
catástrofe natural, mas o tratamento pós-desastre é que nunca vai ser
comparado ao que se daria a qualquer terra loira européia que tivesse
passado por algo parecido. Afora as explicações cientifissíssimas que
foram dadas pelo pastro norte-americano que associou a desgraça
haitiana a pactos com o demônio em prol de sair das algemas da
colonização francesa. E o Cônsul? Macumba amaldiçoou aqueles povos e as
religões de matrizes africans mais uma vez são responsabilizadas pelos
males do mundo à revelia de seus praticantes. E Arnaldo Jabor? Povos
primitivos e bárbaros. Primitivos, sim, posto que primitivo é o que vem
primeiro e somos mesmo os primeiros habitantes desse mundo e toda
linhagem da raça humana de nós surgiu (vou acreditar que ele usou o
termo nesse sentido). No entanto, bárbaros não somos, nem nunca fomos,
afinal, esse não foi o povo deorigem germânica que invadiu o Império
Romano séculos atrás? O não enfadonho e intelectual Jabor devia saber
disso, sobretudo por que esse povo tá mais lá pras bandas do sangue
dele, do que do nosso.
Todo dia um vídeo, uma foto, uma
notícias e uma dor nova. E os braços atados, como doem. Doem como de os
ossos de meu coração invertebrado, de repente, estivessem torcidos.
Doações, cartas públicas de
solidariedade, notas de repúdio ao Cônsul, adoção de crianças órfãs,
embarque para ajudar os feridos e desabrigados: tudo em plena validade.
Só não sei do despertar do amanhã na História desse país. Aquele a
quem, depois da exploração, só restou o desprezo da comunidade
internacional, agora tem sobre si os olhos do mundo para ver a sua
derrocada fatal.
E eu?
No âmago da minha inutilidade, choro!
Ou:
penso no Haiti, rezo pelo Haiti!
Isso por que suas crises são tão minhas que, como ele, também não sei pra que lado vou.
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